Jovem emocionada vai ao interior da República Tcheca
Viagem solo, tempo nublado e uma cidade que nem sabia que queria tanto conhecer. República Tcheca, 30 de Junho de 2022
Talvez seja a semelhança com o clima chove-não-molha que se instalou no Rio de Janeiro nesse final de Outubro que me inspirou a voltar pro meu início de Julho em terras tchecas.
Na estrada entre Praga e Český Krumlov chovia, fazia sol, chovia de novo. Ta aí uma oportunidade bonita: quando durante uma viagem dá pra sair da capital e ver um pouco do interior.
Český Krumlov é uma cidadezinha próxima da fronteira da com a Áustria, fica umas 3 horas de viagem de Praga. Eu estava na capital e saí cedo de la, fui sentada no primeiro banco do ônibus e parecia uma ideia promissora gravar vídeos curtos do meu caminho pra tentar montar algo depois. “Isso pode dar um vídeo legal, mesmo que hoje eu não faça ideia de como fazer” e nunca mais abri os vídeos.
Quando as placas começaram a indicar a proximidade da cidade, fui catando minhas tralhas e pulei do ônibus na primeira oportunidade. Logo percebi que fui uma jovem emocionada demais. A cena que segue foi em câmera lenta: enquanto via o ônibus fazer a curva pra ir embora da estação, olhei em volta, abri o Google Maps e percebi que eu não estava exatamente onde pensava estar.
O ponto azul da localização piscava distante do que eu tinha salvado como “descer aqui”. Estava mais longe do hotel do que o planejado, teria que levar minhas tralhas para um passeio pela cidade. Mas estava ali, após o chove-não-molha no caminho, estava ali e não tinha pressa.
Com a mochila nas costas, um braço puxando a mala que tremia enquanto andava na rua de pedra e outro braço servindo de cabide pra um casaco jeans volumoso e mais uma sacola enorme de mercado - prazer, tralhas - comecei a experimentar um lugar que nem sabia que queria tanto conhecer.
Se um dia estiver nessa mesma situação de estar num onibus vindo de Praga a Český Krumlov, não hesite em ser jovem emocionada também e descer na primeira parada. A intuição misturada com ansiedade fizeram com que a primeira vista da cidade fosse de cartão postal.
A primeira-vista-cartão-postal-da-cidade era um gramado verde vivo, aquele verde que vive depois da chuva, cercado de árvores e cruzado por um córrego que passava ali no meio. Próxima do córrego, uma mesa circular de madeira com quatro cadeiras desarrumadas, na grama, como se as pessoas que estavam ali tivessem acabado de levantar. Foi a chuva que fez eles saírem? Será que seguiram o papo em outro lugar?, pensei. Não dá pra ficar poetizando e viajando na vida alheia enquanto essa sacola tá afundando uma marca no meu braço, também pensei. No fundo da paisagem, a torre de um castelo. Segui a caminhada.
A cada curva me sentia descobrindo um tesouro, ainda que Český Krumlov não seja secreta. Se pesquisar por bate-volta de Praga ou coisas para ver na República Tcheca além da capital, vai ser uma das primeiras cidades que vai aparecer. E com razão, ela é uma joia, linda, charmosa, aconchegante. Não é apenas a percepção dessa jovem emocionada que vos escreve, a cidade é considerada um patrimonio da humanidade pela Unesco.
Situada às margens do rio Vltava, Český Krumlov foi construída ao redor de um castelo do século 13 com elementos góticos, renascentistas e barrocos. Ela é um exemplo excepcional de uma pequena cidade medieval europeia cujo patrimônio arquitetônico permaneceu intacto graças a sua evolução pacífica por mais de cinco séculos.
Uma das dicas preciosas que li é dormir por lá. O bate volta já deve valer a pena como a cidade é pequena e dá pra andar por tudo, mas vê-la a noite é sensacional. Quando vi o dia dormir e a cidade e seu castelo se iluminarem, continuei sentindo como quem descobre um tesouro.
Dizem que a vista da torre do castelo vale os cento e tantos degraus - não cheguei a subir, fiquei zanzando pelos arredores do castelo até encontrar os seus jardins lindos e vazios, tão vazios que dava até pra uma dançadinha lá no meio. Tem amor no silencio, pensei.
A vista de lá é linda, tão linda que no dia seguinte eu não resisti e fui uma jovem emocionada de novo. Tinha pouquíssimo tempo pra ir no castelo de novo e subi lá, feliz em ver a cidade agora sob um céu azul brilhante, rindo na cara do perigo de talvez me atrasar pra seguir viagem.
Se talvez tive que correr pra chegar a tempo de pegar o trem? Talvez. Se essa corrida matinal foi só o início do que seria um longo dia no qual tive que me guiar pela mochila de uma criança pra não me perder sabe-se lá em qual cidade da República Tcheca? Adivinhe...
Pisar em Český Krumlov sem pressa foi um presente valioso. Caminhava e percebia os cafés, lojinhas de roupas, de doces, de joias. Senti amor no simples caminhar pela ruazinha de pedra. Tem tanto amor no silencio, mesmo. No final de uma das curvas, identifiquei onde iria me encostar: um dia nublado daquele e um café bistro winebar fariam o casamento perfeito.
Ainda que minhas aventuras favoritas sejam as compartilhadas, ficar sozinha num café no meio de uma cidadezinha de país inédito assistindo a vida passar em tcheco singularmente recarrega minhas energias.